Reconhecendo e Combatendo o Burnout: Estratégias para um Ambiente de Trabalho Saudável

Este artigo se concentrará em como reconhecer os sinais de burnout e implementar estratégias eficazes para combater essa condição no local de trabalho. Vamos explorar causas, sintomas e medidas preventivas para promover um ambiente de trabalho saudável.

Para tanto, proponho iniciarmos a partir do entendimento do contexto do surgimento do conceito de Burnout.

O conceito de burnout surge em 1974“para nomear o esgotamento típico das profissões de cuidado. É geralmente definido como síndrome psicológica decorrente do estresse crônico laboral (…)” (VIEIRA, I. e RUSSO, J., 2019). 

“O conceito de burnout – em inglês coloquial, “combustão completa” – foi formulado pelo psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger, nos anos 1970, para nomear uma reação de esgotamento físico e mental vivenciada por profissionais de saúde envolvidos na assistência a usuários de drogas (FREUDENBERGER, 1974). Identificado inicialmente nas áreas de cuidado/serviços (saúde, serviço social, assistência jurídica, atividade policial e de bombeiros) e da educação, o burnout foi tradicionalmente definido como uma síndrome psicológica composta de três dimensões: exaustão emocional (sensação de esgotamento de recursos físicos e emocionais), despersonalização ou cinismo (reação negativa ou excessivamente distanciada em relação às pessoas que devem receber o cuidado/serviço) e baixa realização pessoal (sentimentos de incompetência e de perda de produtividade) (MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001 in VIEIRA, I. e RUSSO, J., 2019).

Portanto, o conceito surge a partir da análise do esgotamento relacionado à algumas profissões específicas, este conceito pode ser revisto a partir do desenvolvimento do inventário MBI – Maslach Burnout Inventory por Christina Maslach e Susan Jackson em 1978. “Publicado pela primeira vez em 1981 e agora com seu manual em sua quarta edição, o MBI é a primeira medida de burnout desenvolvida cientificamente e é amplamente utilizado em estudos de pesquisa em todo o mundo.” (MASLACH, C. E LEITER, M. 2021)

“A criação de uma escala diagnóstica para detecção da síndrome – permitiu o desenvolvimento da pesquisa epidemiológica do burnout, estendendo o conceito a diversos países e amostras populacionais, e, assim, a outras ocupações fora das tradicionais áreas de saúde e educação. Com isso, são a organização do trabalho e a relação com o trabalho em si – não necessariamente com atividades específicas – que passam a ser consideradas seus principais determinantes.” (VIEIRA, I. e RUSSO, J., 2019).

De acordo com a publicação das autoras do inventário na Harvard Business Review (MASLACH, C. E LEITER, M. 2021) o MBI está alinhado com a definição de esgotamento da Organização Mundial da Saúde em 2019 como uma experiência ocupacional legítima que as organizações precisam abordar, caracterizada por três dimensões:

  • Sensação de esgotamento ou exaustão de energia.
  • Maior distância mental do trabalho ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho.
  • Eficácia profissional reduzida.

Assim como deve ser quando da utilização de outros inventários e testes, as próprias autoras do MBI reforçam que “as organizações não devem usar o MBI isoladamente. Eles devem combinar suas descobertas com as de outras ferramentas para determinar as causas prováveis dos cinco perfis. Um único resumo das pontuações de MBI dos funcionários não fornece nenhuma orientação útil sobre a aparência do resumo, nem sugere possíveis caminhos para melhorias. (MASLACH, C. E LEITER, M. 2021).

Além de sugerirem que as organizações busquem a contratação de consultores externos para a promoção de um diagnóstico que garanta a confidencialidade e segurança de análise das informações obtidas, possibilitando um planejamento estratégico de intervenções e o planejamento futuro de plano de prevenção.

E como identificar os sinais mais comuns de burnout?

A partir da auto-observação e da observação de comportamentos e relatos dos colegas de trabalho, sejam eles pares, líderes ou membros de uma equipe, de alguns sentimentos e comportamentos que podem ser considerados como sinais de alerta de burnout, como:

  • Cansaço excessivo, físico e mental;
  • Dor de cabeça frequente;
  • Alterações no apetite;
  • Insônia;
  • Dificuldades de concentração;
  • Sentimentos de fracasso e insegurança;
  • Negatividade constante;
  • Sentimentos de derrota e desesperança;
  • Sentimento de incompetência;
  • Alterações repentinas de humor;
  • Isolamento;
  • Fadiga;
  • Pressão alta;
  • Dores musculares;
  • Fadiga;
  • Problemas gastrointestinais;
  • Alteração nos batimentos cardíacos.

Em relação aos sintomas, deve-se incluir a observação da frequência do aparecimento destes, geralmente os sintomas se iniciam de forma leve e em eventos excepcionais, no entanto ao se tratar de burnout estes sintomas se tornam mais frequentes e intensos com o tempo quando não tratados adequadamente, podendo levar a pessoa a debilidade.

Segundo um estudo global conduzido pelo professor Rolf van Dick da Goethe University, na Alemanha, que começou em 2016, “líderes podem ser responsáveis por evitar a Síndrome de Burnout em seus colaboradores por meio de um estilo de liderança menos abusivo”.

“Uma cultura de trabalho tóxica tem um preço enorme: a rotatividade relacionada a locais de trabalho tóxicos custava aos empregadores americanos quase US$ 50 bilhões (R$ 243 bilhões) por ano – mesmo antes do movimento de grande demissão nos EUA.” (Como líderes podem transformar ambientes tóxicos e criar equipes produtivas. Forbes, 2022).

A OMS estima que juntas, depressão e ansiedade custam à economia global 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade.

Desta forma se torna vital investir no desenvolvimento dos líderes para que sejam capazes de tomarem decisões conscientes em relação ao seu estilo de liderança bem como capazes de observar e identificar sinais de alerta, e quais condutas seriam mais apropriadas a determinadas situações.

Como líder, a identificação de possíveis sinais de alerta de potenciais comportamentos que podem ser resultados de burnout se torna essencial à saúde da equipe e dos negócios.

Alguns sinais de alerta são:

  • Atrasos na entrega de projetos, quando este não é comum aquele profissional;
  • Atrasos no horário de entrada do trabalho de profissional reconhecidamente pontual;
  • Faltas por motivos de saúde: dor de cabeça, pressão alta, problemas gastrointestinais;
  • Afastamento médico: observar diagnóstico;
  • Queda de desempenho;
  • Discurso negativo constante, de derrota e insegurança frequentes;
  • Fadiga crônica, cinismo, desapego do trabalho;
  • Irritabilidade;
  • Mudanças repentinas de humor. 

Estudos sobre o tema revelam que as principais causas do surgimento do burnout são as cargas de trabalho excessivas, falta de controle, recompensas insuficientes, falta de equidade e valores conflitantes.

Para combater o burnout é importante a implementação de ações em parceria organização e colaborador, a partir de um diagnóstico organizacional. A organização deve investir no planejamento de projetos com ações estratégicas e contínuas visando o bem-estar dos colaboradores, o que pode incluir modelagem de cultura, revisão de políticas de recursos humanos, programas de desenvolvimento de liderança entre outros. E que os colaboradores invistam em mudanças de hábitos.

Algumas estratégias que podem ser implementadas pelas organizações:

  • Modelagem de cultura;
  • Revisão de políticas de recursos humanos;
  • Programas de desenvolvimento de liderança;
  • Medidas de apoio ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, como por exemplo incentivo a prática de atividade física, respeito aos horários de trabalho, bem como ao horário de almoço, incentivo às férias como um momento de descanso.
  • Apoio psicológico;
  • Criação de um ambiente de trabalho justo e respeitoso;
  • Cultivo de um ambiente de trabalho seguro psicologicamente;
  • Regras claras;
  • Estratégias de combate ao assédio e discriminação.
  • Implementação de programas de promoção bem-estar, promoção de saúde mental, programas de cultivo da felicidade do trabalhador;
  • Incentivo a prática de mindfulness, atividades físicas;
  • Propostas de desenvolvimento em grupo: coaching de grupo por exemplo. 

Algumas estratégias que os colaboradores podem adotar como combate ao burnout:

  • Utilize estratégias de regulação emocional, como por exemplo meditação regular de atenção plena, respiração profunda para acalmar o sistema nervoso, pausas para nomear suas emoções, são algumas estratégias que diminuem a intensidade e duração do estresse e auxilia na retomada da regulação emocional.
  • Realize “micro-pausas” ao longo do dia de trabalho, estudos comprovam que cinco ou dez minutos para caminhar, conversar com amigos ou fazer um alongamento demonstram uma redução eficaz ao estresse.
  • Faça uma boa gestão de tempo.
  • Delegue tarefas.
  • Participe e promova atividades de lazer com amigos e familiares;
  • Tenha um hobby;
  • Faça atividade física regular;
  • Cultive grupos de apoio;
  • Evite consumo de bebidas alcoólicas e uso de drogas, pois alteram as condições mentais;
  • Afaste-se de pessoas com discursos negativos;
  • Não se automedique.
  • Busque ajuda se necessário.

O burnout é uma condição séria e crescente nos ambientes de trabalho modernos, resultante de uma combinação de fatores organizacionais e individuais. Reconhecer seus sinais e implementar estratégias para combatê-lo é essencial para a saúde dos colaboradores e o sucesso das organizações. Investir na formação de líderes conscientes, promover um ambiente de trabalho justo e equilibrado, e incentivar práticas de autocuidado e apoio mútuo são passos fundamentais para construir um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Ao adotar essas estratégias, organizações e colaboradores podem juntos criar um futuro mais sustentável e humano no mundo corporativo.

Saiba mais assistindo a live abaixo:

Referências Bibliográficas:

American Psychological Association (APA). (2019). Stress in America.

EDMONDSON, A. (1999). Psychological safety and learning behavior in work teams.

EDMONDSON, Amy. Building a psychologically safe workplace. TEDxHGSE. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LhoLuui9gX8. Acesso em 14 de maio de 2024.

EDMONDSON, Amy, The Global Leadership Summit 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XX3U2D9yjro&t=6s. Acesso em 14 de maio 2024.

EDMONDSON, Amy. A organização sem medo: Criando Segurança psicológica no local de trabalho para aprendizado, inovação e crescimento. Rio de Janeiro: Alta Books Editora, 2020.

MASLACH, C., Schaufeli, W. B., & Leiter, M. P. (2001). Job burnout.

MASLACH, C. E LEITER, M. How to Measure Burnout Accurately and Ethically. Harvard Business Review, 2021. Disponível em: https://hbr.org/2021/03/how-to-measure-burnout-accurately-and-ethically?language=pt

Organização Mundial da Saúde (OMS). (2019). Burn-out an “occupational phenomenon”: International Classification of Diseases.

Sindrome de Burnout. Gov.br. 2024. Disponível em:

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout

VIEIRA, I. e RUSSO, J. Burnout e estresse: entre medicalização e psicologização. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 29(2), e290206, 2019

WIENS, K. How Burnout became normal – and how to push back against it. Harvard Business Review,2024. Disponível em: https://hbr.org/2024/04/how-burnout-became-normal-and-how-to-push-back-against-it?ab=at_art_art_1x4_s02

Tathy Neder

Psicóloga, especialista em consultoria interna e desenvolvimento humano e organizacional.

Coach Executivo, de Carreira, de Equipes e Grupos,

Consultora, Facilitadora e Mentora de

DHO, Liderança e Carreira.

Facilitadora de Segurança Psicológica.

Chief Happiness Officer.

tathyneder@coaching4action.com

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