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O papel do líder na redução do estigma da saúde mental

Conforme apresentado no artigo anterior, de título “Como falar sobre saúde mental no trabalho”, falar sobre saúde mental continua sendo um estigma na sociedade atual e principalmente nas organizações.

Se no âmbito pessoal ainda é comum que as pessoas que enfrentam algum tipo de sofrimento psíquico escondam tal condição de seus familiares e amigos próximos, imagine então das organizações onde atuam. 

Compartilhar um sofrimento psíquico é, na maioria das vezes, um momento estressante e de grande sofrimento para a pessoa que está enfrentando esta condição. Quando se trata de um profissional na ativa, é acrescido a este sofrimento o medo de perder o seu emprego. 

Portanto, a manutenção do estigma sobre os temas relacionados a saúde mental no ambiente de trabalho gera, não apenas mais estresse e sofrimento, mas um ambiente que potencializa o surgimento de problemas mentais. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, saúde mental é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades.

Sendo assim um ambiente profissional promotor da saúde mental envolve a organização invista na manutenção constante dos pilares físico, mental e social. Desse modo, um ambiente onde há incentivos para o cuidado físico, como plano de saúde, programas de incentivo a prática esportiva ou benefícios com empresas que facilitam a prática esportiva, condições ergonômicas sustentáveis por exemplo. Como cultivo para o pilar mental há a possibilidade de investimento formal na saúde mental por meio da disponibilização de psicólogos para os colaboradores, bem como o cultivo da segurança psicológica dos times, o fortalecimento dos relacionamentos entre os membros das equipes, entre outras formas. E em relação ao pilar social criar um ambiente de empatia, confiança, engajamento e relacionamentos baseados na técnica da comunicação não-violenta, fortalecendo assim um ambiente seguro psicologicamente. 

“Entretanto, é preciso mais do que diretrizes estabelecidas no andar de cima. É preciso empatia por parte das gerências no andar de baixo.” (O’BRIEN, D. e FISHER, J., p. 107).

“Quando as chefias compreendem as questões ligadas à saúde mental – e sabem como reagir a elas -, podem fazer toda a diferença para um funcionário, tanto no nível profissional quanto no pessoal. Isso envolve estar atento, oferecer ajuda e dizer: Estou aqui, conte comigo, você não está sozinho.” (O’BRIEN, D. e FISHER, J., p. 108).

O líder desempenha um papel fundamental, pois de acordo com ROZOVSKY(1), os membros da equipe imitam o comportamento, as pequenas características e dinâmicas, que um líder estabelece dentro de sua equipe.

Sendo assim, um ambiente que promova a redução ou a manutenção do estigma sobre a saúde mental no ambiente de trabalho é um reflexo dos comportamentos do líder em sua equipe, que reproduz tais comportamentos entre os membros da equipe. 

Alguns comportamentos que criam um ambiente de trabalho tóxico e que prejudicam a saúde mental, são a utilização de expressões depreciativas como: 

  • “Ela é louca”;
  • “Ela é histérica “ 
  • “Ele é muito estressado”;
  • “Na minha época, depressão não existia!”;
  • “Falta força de vontade para você superar isso!”;
  • “Depressão? Desculpa para não trabalhar, isso sim!”;
  • “Isso é frescura.”;
  • “É coisa de gente mimada.”;
  • “Psiquiatras e psicólogos servem para tratar gente louca.”;
  • “Isso é falta de trabalho.”;
  • “Você não tem depressão, está se fazendo de vítima”;
  • “Para de ficar com essa cara triste o tempo inteiro”;
  • “Não precisa ficar estressadinho o tempo inteiro”;
  • “Se fizesse as coisas direito não teria essas crises de ansiedade”.

E frase que parecem serem positivas, mas que são depreciativas como: 

  • “Se você se esforçar, você vai melhorar.”
  • “Mas você é tão bonito, não deveria estar assim.”
  • “Você tem tudo, por que adoeceu?”
  • “Isso é coisa da sua cabeça, você está bem!”
  • “Já passei por isso, não é nada grave.”

E como então iniciar o cultivo de um ambiente que promova a redução do estigma da saúde mental no ambiente de trabalho? 

A seguir, vejamos cinco estratégias que os líderes podem implementar para o cultivo deste ambiente mais saudável e empático, de acordo com as autoras O’BRIEN, D. e FISHER, J., 2023. 

5 estratégias para redução do estigma da saúde mental no ambiente de trabalho

  • Preste atenção na linguagem: o uso de frase como: “O Sr. TOC ataca novamente – organizando tudo”. “Hoje ela está esquizofrênica!” “Esta semana ele está muito bipolar”. Podem soar como acusatórios aos ouvidos de um profissional com problemas de saúde mental, que não se sentirá à vontade de compartilhar seu problema, ou pedir apoio se precisar. 
  • Reavalie as faltas por motivos de saúde: os afastamentos por motivos de doenças físicos são aceitos com naturalidade, no entanto é importante que o líder observe a frequência e os motivos destes afastamentos além de demonstrar a mesma naturalidade quando da necessidade de afastamento ou ajustes nos moldes do trabalho para tratar ou facilitar a preservação da saúde mental. 
  • Estimule conversas abertas e honestas: esta estratégia pode ser colocada em prática através do cultivo de um ambiente seguro psicologicamente. Promovendo um ambiente em que os membros da equipe não temam serem julgados caso exponham os seus medos, desafios, preocupações, mas que sintam que são estimulados de modo explicito a falar sempre que sentirem necessidade, inclusive a pedir ajudar quando necessário. 
  • Seja uma pessoa proativa: “em nossa pesquisa de ambiente de trabalho focada na ocorrência de burnout entre os empregados, quase 70% dos participantes disseram que os patrões não faziam o suficiente para evitar ou aliviar o burnout. Os chefes precisam fazer um trabalho mais eficiente no que se refere a ajudar os funcionários a recorrer a esses recursos antes que o estresse gere problema mais sérios.” (O’BRIEN, D. e FISHER, J., p. 110). O líder pode ter um comportamento proativo oferecendo a sua equipe condições de acesso a programas que proporcionem um equilíbrio físico, mental e social. 
  • Ensine as pessoas a perceber e a reagir:  prepare os líderes e suas equipes para que sejam capazes de “reconhecer os sinais de que uma pessoa pode estar sofrendo problemas de saúde mental e conectá-la aos recursos de apoio.” (O’BRIEN, D. e FISHER, J., p. 111). Por meio de programas de desenvolvimento de líderes e equipes, grupos de estudos, coaching de grupo ou equipe a depender da estratégia, entre outras metodologias e técnicas que podem ser desenvolvidas por profissionais terceirizados especializados nesta área. 

Enfim, o papel do líder na redução do estigma da saúde mental no ambiente de trabalho é essencial e transformador. Líderes que promovem um ambiente de respeito, compreensão e apoio podem não apenas melhorar o bem-estar dos colaboradores, mas também aumentar a produtividade e a coesão da equipe. 

Implementar as estratégias sugeridas, como a atenção à linguagem, a reavaliação das faltas por motivos de saúde, a promoção de conversas abertas, a proatividade e o treinamento para reconhecimento e reação a sinais de problemas de saúde mental, são essenciais. 

Criar uma cultura organizacional que valorize a saúde mental exige um compromisso contínuo de todos os níveis da empresa, e os líderes têm um papel especial em modelar comportamentos e atitudes. Quando líderes demonstram empatia, compreensão e apoio, eles não apenas reduzem o estigma, mas também criam um ambiente onde os colaboradores se sentem seguros e valorizados.

Em última análise, ao investir na saúde mental de seus colaboradores, as organizações não apenas cumprem uma responsabilidade social, mas também constroem uma base sólida para o sucesso sustentável e a inovação contínua. 

Um ambiente de trabalho saudável é um reflexo da liderança eficaz, e líderes comprometidos podem fazer a diferença significativa na vida de seus colaboradores e no futuro de suas organizações.

Saiba mais assistindo a live abaixo:

Referências Bibliográficas:

O’BRIEN, D. e FISHER, J. Como reduzir o estigma da saúde mental no trabalho in: Harvard Business Review: Como melhorar a saúde mental no trabalho. 1.ed. Rio de janeiro: Sextante, 2023. Capítulo 10, p. 107 a p. 111. 

Notas

  1. Júlia Rozovsky, Head de Operações de Pessoas • Verily Life Sciences Innovation in teamwork for Health care program HBS, 2023

Foto de: https://pixabay.com/pt/photos/equipe-colegas-colegas-de-trabalho-5842784/

Imagem de fahribaabdullah14 por Pixabay

Tathy Neder

Psicóloga, especialista em consultoria interna e desenvolvimento humano e organizacional.

Coach Executivo, de Carreira, de Equipes e Grupos,

Consultora, Facilitadora e Mentora de

DHO, Liderança e Carreira.

Facilitadora de Segurança Psicológica.

Chief Happiness Officer.

tathyneder@coaching4action.com

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