Este artigo se propõe a apresentar o tema do estresse no trabalho de forma sólida, incluindo a identificação de fontes de estresse comuns no ambiente de trabalho e estratégias de gestão e redução do estresse para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores.
O estudo do estresse ocupacional é um tema pelo qual me interesso desde minha formação universitária e que foi tema de um vasto estudo, realizado por mim e por uma colega de formação, Ana Paula Issa, como nosso trabalho de conclusão de curso da formação de Psicologia finalizada em 2002. Em nossa pesquisa focamos nossos estudos no estresse ocupacional em médicos da rede pública de São Paulo.
E após vinte e dois anos de nossos estudos, o estresse ocupacional surge como tema central de debates mundiais em algumas organizações e como um tema de interesse coletivo. Este “boom” tem sido constantemente atribuído ao momento pós-pandemia e ao novo cenário do trabalho remoto.
No entanto, registros sobre o estudo do estresse surgiram em 1936, a partir da seguinte afirmação de Dr. Hans Selye:
“o estresse é um processo vital e fundamental onde pode ser dividido em dois tipos, ou seja, quando passamos por mudanças boas, temos o estresse positivo e quando atravessamos alguma fase negativa, estamos vivenciando o estresse negativo.” (ROCHA, 2005, p. 156)
Portanto, o estresse é um processo vital que a partir da percepção e interpretação do indivíduo perante a um determinado evento poderá se apresentar como estresse positivo ou como estresse negativo.
Conforme SPARRENBERGER, 2003, o estresse positivo é chamado de eustresse e o negativo de distresse, ambos causam reações fisiológicas semelhantes bem como provém de circunstâncias similares (pressão, cobrança, tensão, etc.). Mas em sua essência, eles são diferentes (SILVA, L. e SALLES, T., 2016)
“O eustresse motiva e estimula a pessoa a lidar com determinada situação, mantendo a percepção mais aguçada, concentrada e maior envolvimento no objetivo proposto em busca da superação de si próprio, podendo então auxiliá-lo em seu crescimento. Mas quando a situação apresenta-se muito intensa e por tempo prolongado o distresse aparece, provocando desmotivação, sensação de incompetência, entre outros sintomas físicos já mencionados.” (SILVA, L. e SALLES, T., 2016)
De acordo com Benevides (2002, p 28-29) o estresse é caracterizado pelas seguintes fases:
“1) Fase de Alarme – é a fase em que o organismo é exposto ao agente estressor, quando se ativa o estado de alerta.
2) Fase de Resistência – A ativação do organismo permanece, entretanto, manter a fase de alarme no mesmo patamar levaria o organismo rapidamente à exaustão e, em consequência, a morte.
3) Fase de Esgotamento – persistindo o agente estressor, o mecanismo de adaptação se rompe, reaparecemos sintomas da etapa de alarme, com consequente deteriorização do organismo.” (SILVA, L. e SALLES, T., 2016)
O estresse no trabalho é uma resposta física e emocional negativa a um desequilíbrio entre as demandas do trabalho e os recursos disponíveis para lidar com essas demandas.
Segundo um estudo realizado pela International Stress Management Association (ISMA) em 2023, o Brasil ocupa a segunda posição dos países com maior índice de estresse no ambiente de trabalho, ficando atrás do Japão que ocupa o primeiro lugar no ranking, onde 70% da população é afetada pelo problema.
Este estudo revela uma realidade preocupante que afeta toda a sociedade.
Em conformidade aos dados publicados pelo Ministério da Previdência Social que afirma terem sido concedidos 288.865 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais no Brasil durante o ano de 2023, pode-se afirmar que estes números são alarmantes.
Mas afinal, quais são as principais causas do estresse ocupacional?
Como apresentado anteriormente o estresse é um processo vital que a partir da percepção e interpretação do indivíduo perante a um determinado evento poderá se apresentar como estresse positivo, eustresse ou como estresse negativo, distresse, desta forma é possível afirmar que as causas são variadas, no entanto algumas pesquisas apresentam alguns fatores que são considerados agentes estressores no ambiente de trabalho e os relacionam à estrutura física, organizacional e relações de trabalho, como:
- Sobrecarga de trabalho: carga de trabalho intensa, prazos apertados, ambientes competitivos e a pressão constante, jornada de trabalho extensa.
- Falta de reconhecimento e políticas de gratificação claras.
- Ausência de aceitação dos problemas de saúde mental no ambiente de trabalho.
- Clima organizacional hostil: assédio, bullying, entre outros.
- Falta de suporte.
- Ambiente organizacional inadequado: ambiente desorganizado, pouco ventilado, com baixa ou pouca iluminação, ruídos excessivos, ambientes sem higiene/limpeza.
- Cenário de instabilidade: demissões, mudanças estruturais e organizacionais sem comunicação adequada, processos de aquisição sem transparência, entre outros fatores.
A ausência de identificação dos agentes estressores no ambiente de trabalho permite a persistência do agente estressor levando o indivíduo ao esgotamento. E seus impactos no indivíduo e no coletivo podem ter consequências avassaladoras, pois os impactos estão nas esferas psíquica, biológica e social, como o burnout, depressão profunda, síndrome de ansiedade, irritabilidade, lapsos de memória, fadiga permanente, transtornos alimentares, abuso de substâncias como álcool e drogas, pressão alta, dores de cabeça constantes, alergias, isolamento social, distúrbio do sono, dificuldades de concentração entre outros.
Este cenário, além de ser um gerador de sofrimento constante para o colaborador ele tem consequências negativas para os negócios, gerando um alto custo com afastamentos médicos, acidentes de trabalho, rotatividade, impacto este que nas áreas de atendimento direto ao cliente, influenciam nas vendas e na preferência e satisfação de clientes.
“A OMS estima que, juntas, depressão e ansiedade custam à economia global 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade – e essa estimativa se baseia em dados pré-pandemia.” (AARONS-MELE, 2023, p.14)
Desta forma investir em ambientes de trabalho saudáveis psiquicamente, que reduzam os agentes estressores, a partir de um diagnóstico organizacional bem conduzido e com um planejamento estratégico progressivo é fundamental para a saúde dos colaboradores e das organizações.
Algumas intervenções estão no campo coletivo e organizacional e outras no campo pessoal, ambas como estratégias complementares que unidas ganham potência para a redução considerável de casos de estresse ocupacional.
Algumas estratégias organizacionais são:
- Revisão da cultura organizacional.
- Programas de bem-estar.
- Programas de saúde-mental.
- Cultivo da segurança psicológica de times.
- Políticas de recursos humanos transparentes e justas.
- Programa de desenvolvimento da liderança.
- Carga de trabalho adequada.
- Incentivo a pequenas pausas durante o dia: de acordo com um estudo de pesquisadores da Universidade da Romenia dez minutos de pausa durante o dia são capazes de reduzir a fadiga e aumentar a energia.
Algumas estratégias pessoais, que podem ser adotadas pelo indivíduo:
- Praticar atividade física regular: Estudos apontam que o exercício físico reduz níveis de ansiedade, depressão e raiva, sendo eles considerados sintomas de estresse (BERGER e MACINMAN, 1993).
- Boa gestão do tempo.
- Manter uma alimentação saudável.
- Ter momentos de lazer.
- Fazer pequenas pausas durante o dia.
- Investir em um hobby.
Concluindo, o estresse no trabalho é uma realidade que afeta significativamente a saúde dos colaboradores e a eficiência das organizações. A identificação das fontes de estresse, a implementação de técnicas de gestão e a promoção de um ambiente de trabalho saudável são essenciais para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.
Para que as organizações possam realmente criar um ambiente mais saudável, é fundamental que sejam realizados diagnósticos organizacionais precisos e que se elabore um plano de ações estruturadas e contínuas, além da importância do apoio da alta gestão.
Estou à disposição para auxiliar no diagnóstico e na construção de um plano de ações eficiente e personalizado para sua organização. Juntos, podemos desenvolver estratégias que não apenas reduzem o estresse ocupacional, mas também fomentam um ambiente de trabalho mais produtivo e harmonioso, beneficiando tanto os colaboradores quanto a empresa como um todo.
Saiba mais assistindo a live abaixo:
Referências Bibliográficas:
AARONS-MELE, M. A saúde mental no ambiente de trabalho in: Harvard Business Review: Como melhorar a saúde mental no trabalho. 1.ed. Rio de janeiro: Sextante, 2023. Introdução, p. 14
BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. A saúde mental de profissionais de saúde mental: uma investigação da personalidade de psicólogos. [S. l.]: EDUEM, 2001. p.34
BENEVIDES-PEREIRA, A. M. T. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. Casa do Psicólogo, 2002.
MORSCH, J. Estresse ocupacional: o que é, causas e consequências. Morsch Telemedicina, Rio Grande do Sul, 2022. Disponível em: https://telemedicinamorsch.com.br/blog/estresse-ocupacional.
Pausa no trabalho: a sua importância e como fazer corretamente. Unimed Campinas. Disponível em: https://www.unimedcampinas.com.br/blog/saude-para-seu-negocio/pausa-no-trabalho-a-sua-importancia-e-como-fazer-corretamente.
ISSA, A. e NEDER, T. Estresse Ocupacional em médicos da rede pública de São Paulo. 2002.
SILVA, L. e SALLES, T. O estresse ocupacional e as formas alternativas de tratamento. Recape: revista de carreira e pessoas, São Paulo, volume IV – número 2 páginas 234 a 247, Mai/Jun/Jul/Ago 2016
Síndrome de Burnout: Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados. Estado de Minas, 2023.Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/saude-e-bem-viver/2023/05/26/interna_bem_viver,1498977/sindrome-de-burnout-brasil-e-o-segundo-pais-com-mais-casos-diagnosticados.shtml. Acesso em: 13 novembro 2023.
Aumento de 38% nos afastamentos por transtornos mentais no trabalho: um desafio para o mundo corporativo. Hospital Santa Mônica, 2024. Disponível em: https://hospitalsantamonica.com.br/aumento-de-38-nos-afastamentos-por-transtornos-mentais-no-trabalho-um-desafio-para-o-mundo-corporativo/