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Estratégias para o líder com ansiedade

A ansiedade é um sentimento comum aos seres humanos. A ansiedade é o motor primordial para reforçar e apoiar o instinto de sobrevivência humana. Afinal, era importante que o homem, na era das cavernas, ao se deparar com um animal enorme e feroz, reagisse rapidamente preservando a sua vida, sendo acionado, perante uma ameaça, o sistema nervoso simpático ativando as repostas de luta ou fuga, agindo assim com o propósito de autoproteção. “Cientificamente, ansiedades imediatas ou de curto período são definidas como reações de luta-e-fuga.” (1)

Ao longo de nossa evolução o homem passou por variados desafios que geraram mudanças de visão sobre diversos aspectos como o papel da mulher na família e na sociedade, por redefinição do conceito em relação ao trabalho, novas religiões surgiram, novas doenças surgiram e foram identificadas, os comportamentos considerados adequados mudaram ao longo da história, e novas preocupações surgiram. 

A concretização destas mudanças pode ser observada a partir do conceito amplamente utilizado nas organizações de mundo VUCA e mais recentemente mundo BANI. 

O conceito de mundo VUCA foi criado pelo exército dos Estados Unidos logo após o fim da Guerra Fria, “com o propósito de descrever as transformações mundiais ocorridas, quais seriam as possíveis novas dinâmicas e como deveria ser o modo de agir dos militares caso outros conflitos viessem a acontecer.” (2) 

A sigla VUCA é utilizada para identificar os termos em inglês volatility, uncertainty, complexity e ambiguity que, em português, significam volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.

Já, em 2018 o antropólogo e futurologista Jamais Cascio, durante um evento organizado pelo Institute For The Future (IFTF) apresentou o conceito de mundo BANI, sendo as siglas referentes a B (brittle) frágil, A (anxious) ansioso, N (nonlinear) não-linear, I (incomprehensible) incompreensível, ganhando notoriedade com a publicação do artigo de Cascio, denominado “Facing The Age Of Chaos”, ou “Encarando a Era do Caos”, em tradução livre.

De acordo com Jamais Cascio “BANI é uma forma de melhor enquadrar e responder ao estado atual do mundo. Algumas das mudanças que vemos acontecendo em nossa política, nosso meio ambiente, nossa sociedade e nossas tecnologias são familiares — estressantes à sua maneira, talvez, mas de um tipo que já vimos e lidamos antes. Mas muitas das convulsões, agora em curso, não são familiares, são surpreendentes e completamente desorientadoras. Elas se manifestam de maneiras que não apenas aumentam o estresse que experimentamos, mas também o multiplicam” (2)

O homem passa então a se preocupar com a situação na mesma proporção que se preocupava com o inicialmente objeto, ou seja com o animal que poderia devorá-lo, ainda que não haja mais a real ameaça contra a sua vida, a sensação em relação à situação tem sido interpretada da mesma forma. 

Sendo assim, à ansiedade é um sentimento importante para todo ser humano e que, quando utilizada de forma consciente, tem benefícios como mencionado por Aarons-mele: “a ansiedade é capaz de nos motivar a tornar nossas equipes mais habilidosas, produtivas e criativas. Ela pode derrubar obstáculos e estabelecer novos vínculo. Entretanto, quando a deixamos sem controle, a ansiedade nos distrai, suga nossa energia e nos leva a tomar decisões ruins.” (AARONS-MELE, M, 2023, p.135).

Portanto, ansiedade é um sentimento natural, já um transtorno de ansiedade é um sentimento intenso, persistente e que gera prejuízos à qualidade de vida e bem-estar do indivíduo. 

Desta forma, é natural que os líderes enfrentem, ao longo de seu dia de trabalho situações em que as reações de luta-e-fuga são acionadas, ou seja, que se deparem com os períodos imediatos e curtos de ansiedade, como perante a necessidade de concretizar a demissão de um membro de sua equipe, por exemplo. Ou ainda em momentos de decisão e de altos riscos para os negócios, entre tantos outros momentos inerentes ao cargo.  

A seguir vejamos um processo em quatro etapas, definido pela Morra Aarons-Mele para que os líderes possam estar preparados para lidar com estes momentos: 

  1. identificar a ansiedade;
  2. tomar uma atitude a fim de gerenciá-la; 
  3. limitar seu impacto sobre a liderança;
  4. estabelecer uma infraestrutura de apoio. 

1. Identificar a ansiedade

Reconheça e aceite suas emoções 

O primeiro passo é o reconhecimento e aceitação de suas emoções. 

Este passo é fundamental, pois somente a partir desta conscientização é que se pode buscar ajuda adequada se for necessário ou encontrar boas soluções para tornar a ansiedade um motor positivo como descrito no início deste artigo. 

Nomeie o que está sentindo, segundo a psicóloga e especialista em ansiedade, Ângela Neal-Barnett, nomear o que sente é o início para encarar os problemas, além de promover a percepção sobre o “modo como a ansiedade molda seu comportamento e suas decisões e o que a faz surgir, e isso vai fornecer ferramentas com as quais gerenciá-la.” (AARONS-MELE, M, 2023, p.136).

Pesquisas revelam que líderes que administram bem as suas emoções têm satisfação maior no trabalho e apresentam melhores desempenho e têm relacionamentos mais saudáveis.

Banque o detetive 

 Após reconhecer, aceitar e nomear o seu sentimento como ansiedade, você está pronto para o próximo passo, agir como detetive. 

Procure identificar quando e por que as crises de ansiedade se manifestam. Perceba quais são os seus gatilhos. 

Não há um padrão comum para estes gatilhos, portanto eles podem ser inúmeros, assim como os sintomas das crises de ansiedade, elas podem se manifestar de forma distintas a cada indivíduo, algumas pessoas relatam sentirem dores no peito, tensão maxilar, rigidez nos ombros alteração de apetite muitas vezes ocasionando o emagrecimento ou a obesidade, mudanças nos níveis de energia, outras relatam apresentarem baixa autoestima, evitação de comparecimento a eventos sociais, e em outras pessoas pode ainda ser um gatilho para vícios e comportamentos compulsivos. 

Uma forma eficaz e que contribui nesta etapa é o registro por escrito destas informações.

Carol Glass sugere que a pessoa se pergunte: 

  • “como reagi à ansiedade naquele momento? 
  • “aquele comportamento foi ou não útil?”
  • “ele alimentou ou aliviou a minha ansiedade?”

Diferencie o provável do possível

Em uma crise de ansiedade é comum que a pessoa se sinta paralisada e que seja tomada por um sentimento de medo avassalador a impedindo de raciocinar claramente, por isso a sua identificação e nomeação é primordial para que, ao notar que se está em um momento de crise de ansiedade, a pessoa busque diferenciar o é provável do que é possível de acontecer. 

Quando a pessoa faz o passo anterior, de detetive, ela é capaz de frear seus pensamentos e até mesmo de evitar chegar à crise de ansiedade. 

Enfim, retomemos a diferenciação entre provável e possível. Jerry Colonna aconselha: “diferencie o provável do possível. É possível que todo mundo que eu amo morra em uma pandemia e que eu perca tudo que me é caro. Mas não é provável que tudo o que a gente ama e valoriza desapareça.” 

Desta forma, procure diferenciar os pensamentos catastróficos presentes em uma crise de ansiedade, daquilo que realmente tem

probabilidade de acontecer. 

2. Como agir no gerenciamento da ansiedade 

Com a etapa de identificação da ansiedade cumprida, em que a pessoa já é capaz de reconhecer e aceitar as suas emoções, nomeá-las, bem como já é capaz de identificar os gatilhos geradores de tais sentimentos e emoções e consegue diferenciar o provável do possível, pode-se seguir para a próxima etapa que diz respeito ao gerenciamento da ansiedade, etapa que abrange:

  •  controlar o que for possível: perceba sobre o que realmente você tem controle e aceite aquilo pelo qual você não tem controle. 
  • Estruture o tempo: planejamento das tarefas diárias, de acordo com pesquisas (3) organizar o tempo tem impacto positivo na saúde mental. 
  • Dedique-se a pequenas tarefas relevantes: foque em tarefas com impacto no presente e futuro próximo. 
  • Desenvolva técnicas para as situações que não conseguir controlar: crie a sua caixa de ferramentas para se acalmar quando estiver perante a um potencial gatilho, as técnicas podem ser as mais variadas, as mais comuns são técnicas de respiração e meditação. 
  • Descubra uma técnica de concentração que abrande a ansiedade aguda: há diversas técnicas disponíveis, a melhor delas é aquela que funciona para você. Além das técnicas de respiração e meditação, uma técnica que tem um alto índice de aceitação e de impacto positivo imediato é “desviar a atenção, o que pode ser útil se a pessoa estiver enfrentando problemas de concentração. Primeiro, mantenha o foco na ansiedade, e, então, transfira aos poucos a atenção a algo tangível, algo que você possa segurar com as mãos, como um livro. Ao se concentrar em um objeto no momento presente, é possível diminuir o volume das preocupações até que elas não passem de um ruído de fundo.” (AARONS-MELE, M, 2023, p.140).
  • Compartimentalize ou adie às preocupações: neste estágio é possível, ao se deparar com a ansiedade, dizer a ela que você está a vendo e que neste momento você está ocupado e que precisa focar no que está realizando no momento. 

Outra técnica eficaz é a de registrar os eventos de ansiedade, transferindo para o papel o que está sentindo e posteriormente pode te auxiliar em sua tomada de consciência. 

Para te auxiliar em todo o processo, incluindo a encontrar as técnicas mais eficazes para você, sugiro a busca por um profissional especializado na área, como um psicólogo. 

3. Limite o impacto da ansiedade na sua liderança 

Quando é o líder que está enfrentando crises de ansiedade e sendo ele, como mencionado em artigos anteriores, aquele que modela os comportamentos dela, qual o impacto a sua ansiedade tem na equipe? Qual o impacto a ansiedade do líder tem em sua liderança? 

Tome boas decisões

Em momentos de ansiedade a pessoa tem a sua capacidade de discernimento prejudicada, o ideal seria se pudesse não tomar decisões importantes durante estes momentos, no entanto nem sempre há escolha, sendo assim uma boa estratégia é recorrer a diferenciação do possível e do provável, e em segundo estágio recorrer a pares em que possa confiar para auxiliá-lo a refletir sobre o cenário de forma mais clara e realista. 

Pratique a comunicação saudável 

Fique atento com a forma como se comunica, pois a ansiedade é contagiante. 

  • Como montar um sistema de apoio

Ter um sistema de apoio pode gerar o sentimento de acolhimento e segurança. Este sistema idealmente deve ser composto por pessoas de sua confiança com quem pode contar em meio a uma crise de ansiedade, como colegas, familiares e profissionais da especializados na área de saúde mental. Ter uma caixa de ferramentas, ou seja, estratégias de ações que pode adotar durante estes momentos são também indicados. 

Cronograma, estrutura e planejamento de cenário

A organização e o planejamento, como visto anteriormente, auxiliam na redução da ansiedade. Planeje as ações em pequenas passos. 

Utilizar de técnicas para o gerenciamento de tempo também são favoráveis, assim como técnicas de visualização para as tarefas que já identificou que são gatilhos para as crises de ansiedade. 

Pratique o autocuidado

A prática do autocuidado envolve ter um sono de qualidade, alimentação saudável, praticar atividades físicas regularmente, e muitas outras ações e hábitos que são particulares a cada individuo. 

Concluindo, a ansiedade é uma resposta natural do ser humano que, quando compreendida e bem gerida, pode ser uma aliada no ambiente de trabalho, especialmente para líderes. Contudo, quando descontrolada, ela afeta negativamente a capacidade de liderança, as relações interpessoais e a tomada de decisões. Ao aplicar as estratégias discutidas, como identificar, gerenciar e limitar os impactos da ansiedade, os líderes podem transformar esse desafio em uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Estabelecer um sistema de apoio e praticar o autocuidado são essenciais para fortalecer a resiliência diante das pressões e responsabilidades do mundo contemporâneo.

Saiba mais em: 

Referência bibliográfica

AARONS-MELE, M. Ansiedade quando você é o chefe in: Harvard Business Review: Como melhorar a saúde mental no trabalho. 1.ed. Rio de janeiro: Sextante, 2023. Capítulo 14, p. 134 a p. 145.  

Ansiedade: o que é, principais sintomas e como controlar. Vida saudábel o blog do Einsten. 12/01/2023. Disponível em:  https://vidasaudavel.einstein.br/ansiedade/

Notas

Imagem: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/homem-segurando-seus-oculos-DpdTfB8lQTc

Foto de Benjamin Ranger na Unsplash

Tathy Neder

Psicóloga, especialista em consultoria interna e desenvolvimento humano e organizacional.

Coach Executivo, de Carreira, de Equipes e Grupos,

Consultora, Facilitadora e Mentora de

DHO, Liderança e Carreira.

Facilitadora de Segurança Psicológica.

Chief Happiness Officer.

tathyneder@coaching4action.com

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