Introdução
“Quase 1 bilhão de pessoas no mundo tem algum distúrbio mental, (…). Além disso, durante a pandemia de covid-19, os sintomas de ansiedade e depressão aumentaram nos Estados Unidos – cerca de 80% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos relataram sintomas de moderados a severos.” (RIEGEL, 2023).
Se considerarmos a idade legal para se exercer uma atividade laboral, nos Estados Unidos, onde a pesquisa foi realizada, provavelmente alguns dos entrevistados já tenham uma vida laboral ativa, portanto estão dentro das organizações.
E como falar sobre saúde mental com seu líder?
Talvez seja importante fazer uma análise anterior a pergunta sobre como falar sobre saúde mental com seu líder, talvez seja importante entender o porquê falar com o seu líder sobre a sua saúde mental.
Saúde mental não envolve apenas os aspectos emocionais e psicológicos, envolve condições básicas de vida, saúde física, apoio social além de aspectos sociais, ambientais e econômicos (1).
Sendo assim, ao se deparar com uma questão da ordem da saúde mental, o indivíduo deve buscar ajuda profissional, pois sem acesso ao devido tratamento, o indivíduo poderá ter um agravamento em seu quadro podendo, em casos mais graves, levar ao suicídio.
Em alguns casos, o tratamento é realizado dentro do horário comercial, requerendo desta forma um ajuste na carga horária, necessitando que um acordo com o líder seja feito.
Outro ponto a se considerar é o acesso aos direitos legais e aos direitos a aplicação das diretrizes organizacionais. Empresas mais maduras costumam ter parcerias com profissionais e organizações que oferecem serviços que podem impactar positivamente na saúde mental de seus colaboradores.
Ter uma conversa franca com seu líder pode ainda auxiliar em negociações temporárias sobre a quantidade de trabalho, o grau de exigência, horário flexível, entre outras necessidades que o colaborador possa ter e que possam ser negociáveis.
No entanto, é sempre preciso avaliar caso a caso, mais importante do que falar sobre o assunto com o líder é fazer uma análise cuidadosa se os ganhos serão maiores que as perdas, antes de tomar qualquer decisão sobre o assunto. (RIEGEL, 2023).
Um ambiente em que os profissionais sentem confiança em falar sem medo de consequências negativas, assumem riscos sem medo de serem punidos, confiam uns nos outros, é um ambiente em que possibilita conversas francas e desta forma as chances de um profissional buscar ajuda junto a seu líder aumentam significativamente, tornando o processo de sofrimento do profissional mais leve e contribuindo para com o seu tratamento.
E como falar sobre saúde mental com seu líder?
Tomada a decisão de ter uma conversa franca com o líder, o próximo passo é se organizar. Organizar sua mente e identificar o que pretende obter com esta conversa, ou seja, ao final desta conversa o que se espera obter.
A seguir vejamos algumas recomendações feitas por Deborah Grayson Riegel:
- Entenda o que está contando.
- Pense no “porquê”.
- Conheça seus direitos.
- Prepare-se para compartilhar sua experiência.
- Informe suas necessidades à chefia.
- Reforce comportamentos benéficos.
1. Entenda o que está contando.
Riegel recomenda que o primeiro passo seja compreender o que está acontecendo internamente.
Identificar se está passando com um problema de saúde mental, passageiro, em que seus pensamentos e comportamentos mudaram a ponto de estarem interferindo em suas capacidades cognitivas e em suas habilidades e que podem ter sido desencadeados por um evento específico, como discriminação ou bullying, ou se você está enfrentando um distúrbio mental devidamente diagnosticado por um médico ou profissional da saúde mental, e costuma ser duradouro, como por exemplo ter diagnosticado uma depressão, transtorno de ansiedade, burnout entre outros.
Alguns pontos de atenção em relação a possíveis impactos na saúde mental são:
- Mudanças abruptas e repentinas de humor;
- Dificuldade de concluir um trabalho;
- Dificuldade de concentração;
- Sentimento de tristeza frequente;
- Distúrbio do sono;
- Falta ou excesso de apetite;
- Irritação.
2. Pense no “porquê”.
Prepare-se antes de falar com seu líder, avalie o que deseja obter com esta conversa, se você precisa de algum acordo para prosseguir em seu tratamento e seguir trabalhando, por exemplo.
Em casos de distúrbio mental pode ser interessante contar com o auxílio de alguém de confiança para fazer uma preparação mais consciente, contar com a ajuda de um amigo, um familiar, um profissional da área de saúde ou ainda um colega do trabalho de sua confiança.
3. Conheça seus direitos.
“Antes de abordar o seu chefe, saiba que ninguém é obrigado a compartilhar o próprio histórico médico. Fale apenas dos detalhes que você não se importa em revelar ou que considera relevantes para seu desempenho e seu bem-estar no trabalho.” (RIEGEL, 2023).
Busque se informar sobre seus direitos legais, pesquise sobre as leis de proteção à saúde mental. Uma primeira busca pode ser feita livremente pela internet, outra possibilidade mais segura é consultar um advogado trabalhista. Em “Desvendando a Nova Classificação de Doenças do Trabalho – Impactos e Estratégias para um Ambiente organizacional mais saudável com o advogado trabalhista Dr. Cleiton Silveira” (2) e (3), Tathy Neder entrevista o Dr. Cleiton sobre a legislação que ampara profissionais e contratantes, para se aprofundar no tema busque os vídeos, citados em notas ao final deste artigo. Bem como o texto escrito pelo Dr Cleiton Silveira, a convite de Tathy Neder para o Dossiê Assédio publicado na Revista Coaching Brasil (4).
4. Prepare-se para compartilhar sua experiência.
O seu líder pode não saber como lidar com a informação que está prestes a comunicar, então se lembre disso e prepare-se para contar o que está passando sem esperar que ele entenda imediatamente.
As doenças em geral, apesar de terem características similares elas podem se manifestar de diversas formas e interpretações e impactos muito particulares, portanto se organize para contar como determinado problema se manifesta em você, qual o impacto em seu dia a dia e o que você precisaria obter para te ajudar neste momento.
Esteja aberto para responder as perguntas de seu líder, mas saiba que o limite é você quem deve dar, avalie como se sente e como prefere responder neste momento, assim como seu líder, você também não é obrigado a ter todas as repostas prontas, caso precise de mais tempo, peça a seu líder para pensar e retornar depois, e aceite a mesma postura de seu líder, caso ele precise.
5. Informe suas necessidades à chefia.
Deixe claro as suas necessidades e disposição para uma negociação plausível neste momento.
Informe o que precisa para se manter trabalhando e ao mesmo tempo garantir que dará continuidade ao devido tratamento.
Solicite aos recursos humanos informações sobre as políticas da empresa e parcerias que a empresa possa ter firmado e que poderão contribuir com o seu tratamento.
6. Reforce comportamentos benéficos.
Em um ambiente organizacional onde há o cultivo da segurança psicológica, manter conversas francas com seu líder é o melhor caminho.
Mantenha seu líder atualizado sobre o seu processo de tratamento, quais ações têm contribuído para sua evolução e sobre necessidades de ajustes.
Conclusão
Falar sobre saúde mental no ambiente de trabalho ainda é um desafio para muitos, mas é um passo crucial para garantir o bem-estar e a produtividade dos colaboradores. A preparação para essa conversa, o conhecimento sobre os próprios direitos e o cultivo de um ambiente de confiança são fundamentais. Com líderes abertos ao diálogo e colaboradores que se sintam seguros para expressar suas necessidades, é possível criar um espaço de trabalho mais saudável e sustentável para todos. Ao seguir as recomendações apresentadas, você pode aumentar as chances de ter uma conversa produtiva e alcançar soluções que beneficiem sua saúde mental sem comprometer seu desempenho profissional.
Assista o Broadcast:
Referências Bibliográficas:
RIEGEL, D. G. Como falar de saúde mental com seu chefe in: Harvard Business Review: Como melhorar a saúde mental no trabalho. 1.ed. Rio de janeiro: Sextante, 2023. Capítulo 2, p. 29 a p. 36.
FERRO, A. R. e KASSOUF, A. L. Efeitos do aumento da idade mínima legal no trabalho dos brasileiros de 14 e 15 anos. Setembro, 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-20032005000200006. Acesso em: 26 de setembro de 2024.
Notas
- Saúde Mental. Minstério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/saude-mental#:~:text=Entender%20a%20saúde%20mental%20como,e%20apoiando%20uns%20aos%20outros. Acesso em: 26 de setembro de 2024.
- Neder, T. Live 1: Desvendando a Nova Classificação de Doenças do Trabalho – Impactos e Estratégias para um Ambiente organizacional mais saudável com o advogado trabalhista Dr. Cleiton Silveira. Disponível em: https://youtu.be/rG-DBIVaplw?si=fjyKrCee_5gSkh8B
- Neder, T. Live 2: Desvendando a Nova Classificação de Doenças do Trabalho – Impactos e Estratégias para um Ambiente organizacional mais saudável com o advogado trabalhista Dr. Cleiton Silveira. Disponível em: https://youtu.be/yb69dwOwoMY?si=PVbIxrD_E-Oc9vn1
- NEDER, T. Dossiê Assédio in: Revista Coaching Brasil. Edição 131, Abril 2023. Disponível em: https://revistacoachingbrasil.com.br/edicao/131/1867_editorial-ed.-131-assedio
Foto de: https://pixabay.com/pt/illustrations/ai-gerado-entrevista-conversação-8701387/
Imagem de Mo Farrelly por Pixabay